Junho de 2024 – Vol. 29 – Nº 6
Sérgio Telles
1) Interessante e melancólico artigo de uma jornalista e escritora norte-americana
que é uma mulher trans. Nele reflete sobre sua análise e sobre o conceito de
inveja do pênis. Acredita que sua experiência contradiz a teoria freudiana, pois,
ao invés de valorizar o pênis, queria se desfazer do seu, o que terminou por
fazer.
What Freudian Psychoanalysis Gets Wrong About Trans Identity ‹ Literary Hub
(lithub.com)
2) Christian Dunker especula sobre as agruras do Édipo em tempos atuais,
condenado ao ostracismo por muitos, engessado como dogma por outros, mas
mantendo uma vitalidade intrínseca que não o deixa morrer.
Psicanálise: quem precisa de Édipo? (uol.com.br)
3) Em entrevista para a revista Cult, Daniel Kupermann fala sobre Sandor
Ferenczi e o resgate do ostracismo em que esteve relegado por décadas. A
importância do trauma, da realidade externa e da empatia na relação
terapêutica são elementos que marcam sua teoria e sua técnica. Em torno de
sua obra ocorrerá em São Paulo a 14ª. Conferência Internacional Sandor
Ferenczi – Psicanálise entre catástrofe e criação: perspectivas e movimentos.
“O ódio destruidor é a outra face do negacionismo ilusório” – Revista Cult
(uol.com.br)
4) Um artigo polêmico sobre o ativismo pós-colonial em ascensão nos campos
universitários norte-americanos, que o autor – utilizando o instrumental
psicanalítico – vê como uma “doença infantil”. Inclui nessa militância a atual
onda antissemita incrementada pela política israelense na luta contra o Hamas
e que tem como pano de fundo a não resolvida questão territorial dos
palestinos.
Postcolonial Activism: An Infantile Disorder (telospress.com)
5) Psicanalista inglês lança livro – “Psicanálise e Revolução – Psicologia crítica
para movimentos de libertação” – em que critica o excesso de psicologização
da vida cotidiana, o que leva a uma diminuição das práticas políticas, fazendo
com que problemas que se originam na organização social sejam vistos como
decorrentes de conflitos internos.
‘Não teremos psicologia no futuro’ | eKathimerini.com
6) Estimulante conversa com o psicanalista argentino George Alemán em torno
de dois de seus livros – “Breviario politico de psicoanalisis” e “Soledad comum”.
“O amor é a experiência da impossibilidade, e é por isso que o capitalismo não
consegue apropriar-se totalmente dele”. Entrevista com Jorge Alemán –
Instituto Humanitas Unisinos – IHU
7) Mais de 1000 psicólogos, psicanalistas, psiquiatras e estudantes de psicologia
assinaram na França um manifesto contra projeto de lei que pretende
regularizar os cuidados de menores com problemas de gênero, impedindo, por
exemplo, a administração de hormônios bloqueadores de crescimento e
intervenções cirúrgicas antes dos 25 anos. O manifesto mostra como a
polarização ideológica e política prevalece no debate de um tema tão complexo
e de consequências definitivas para os interessados.
Tribune. Plus de 1000 psys, profs et étudiant·es en psycho contre l’offensive
transphobe (revolutionpermanente.fr)
8) Em junho será lançada, em Londres, a nova edição da obra de Freud, uma
revisão da famosa Standard Edition de Strachey . Agora chamada Revised
Standard Edition – SER) e empreendida pelo psicanalista Mark Solms, a obra
tem 8 mil páginas e será comercializada por 1.500 libras.
Sigmund Freud: The famed psychoanalyst’s year in London (bbc.com)
9) Uma psicanalista comenta a série “Bebê Rena”, inesperado sucesso no
streaming que mostra a relação de complementaridade que se estabelece
entre uma “perseguidora” (“stalker”, uma erotomaníaca, alguém fixada
delirantemente a uma pessoa) e o objeto de seus interesses.
Há um nome na psicanálise para a stalker de “Bebê Rena” – Cultura
(em.com.br)
10) Frieda Fromm-Reichmann ficou conhecida após imigrar para os Estados
Unidos, onde se ligou ao respeitado Chestnut Lodge, famoso hospital
psiquiátrico de práticas influenciadas pela psicanálise. Frieda preconizava uma
forte proximidade na relação com o paciente e nela sua religiosidade estava
presente, a ponto de se dizer afetivamente que ela criara uma “torah-pia”
(trocadilho entre “terapia” e o Torah). Sua paciente mais famosa, Joanne
Greenberg, escreveu um livro que se tornou um best-seller, “Nunca lhe prometi
um mar de rosas”, em que descrevia de forma ficcionalizada a análise que
fizera. Fromm-Reich, que trabalhou até sua morte, ficou surda no final da vida,
decorrência de uma condição genética da qual padecia. Mas isso não a
impediu de atender pacientes. Eles gravavam suas falas, que eram transcritas
para que ela as lesse e respondesse, mantendo assim sua atividade
profissional.
Frieda Fromm-Reichmann’s “Torah-peutic” Psychoanalysis (U.S. National Park
Service) (nps.gov)
11) Analista responde em revista para o grande público a pergunta de um leitor
sobre as peculiaridades do desejo do obsessivo – um desejo constrangido,
moldado por muitos impedimentos, proibições e postergações.
“Qual é o desejo do obsessivo?” | Slate.fr
12) Uma longa entrevista com Vera Iaconelli, que discorre sobre as mudanças dos
padrões fálicos em curso nas atualidades e como a psicanálise responde a
isso.
Por uma psicanálise excentrica – Outras Palavras
13) Uma biografia de Bertha Pappenheim, a famosa Anna O. descrita por Freud e
Breuer em “Estudos sobre a Histeria”. O autor diz que, ao contrário do que foi
afirmado, Berta não foi curada pela incipiente psicanálise. Encerrado o
tratamento, passou ainda por internações psiquiátricas e grandes sofrimentos.
Apenas anos depois conseguiu se recuperar, vindo a ser uma importante
advogada atuante em questões sociais. Até que ponto esse desfecho positivo
poderia ser atribuído à psicanálise empreendia décadas antes?
Resenha: ‘A Mente Secreta de Bertha Pappenheim’, de Gabriel Brownstein –
The New York Times (nytimes.com)
14) Permanece em exibição no Freud Museum de Londres, a exposição “Freud in
Latin America”, ressaltando a importância da psicanálise em países do Cone
Sul, especialmente na Argentina e Brasil. São citados Honorio Delgado, um
peruano que manteve correspondência com Freud por uma década antes de
abandonar as hostes psicanalíticas, e o brasileiro Gastão Pereira da Silva, que
tinha um programa de rádio – ”O mundo dos sonhos” – onde dramatizava
situações em que um analista interpretava sonhos de um paciente.
When Latin America Took the “Talking Cure” (americasquarterly.org)
15) Salman Rushdie fala sobre seu último livro “Faca”, onde descreve o atentado
em que foi esfaqueado dez vezes, o que o fez perder uma visão. Diz ter escrito
o livro com a ajuda de seu terapeuta.
https://www.theguardian.com/books/2024/apr/21/salman-rushdie-warns-young-
people-against-forgetting-value-of-free-speech